A infecção urinária recorrente em mulheres é definida como uma infecção comprovada por urocultura que tenha ocorrido pelo menos duas vezes em seis meses ou três vezes em um ano. 

É uma condição altamente prevalente, dispendiosa e onerosa, que afeta mulheres de todas as idades, raças e etnias, independentemente de seu status socioeconômico ou nível educacional.

Esta infecção pode impactar significativamente a qualidade de vida exigindo uma atenção médica cuidadosa para o tratamento adequado.

Muitas mulheres experimentam ansiedade e desconforto, além de preocupações como o medo de ter relações sexuais, sensação de falta de higiene e receio de que doenças mais graves possam estar ocultas.

Neste artigo, eu vou explicar de maneira acessível e abrangente o que é a infecção urinária recorrente em mulheres, suas causas, sintomas, diagnóstico e opções de tratamento, dando um enfoque especial em questões relacionadas aos tratamentos e medidas de prevenção.

Para trazer as melhores informações, baseei-me na diretriz baseada em evidências da Associação Americana de Urologia (AUA) de 2019: “Infecções Urinárias Recorrentes Não Complicadas em Mulheres: Diretriz AUA/CUA/SUFU.” 

O que é infecção urinária?

A infecção urinária ou infecção do trato urinário (ITU), é um tipo de infecção que pode ocorrer em qualquer parte do sistema urinário, incluindo a bexiga, os rins, os ureteres e a uretra, sendo causada, geralmente, por bactérias patogênicas no trato urinário.

É importante salientar que a urina de pessoas saudáveis é estéril, totalmente desprovida de bactérias.

Por que a infecção urinária acomete mais as mulheres?

A infecção urinária é significativamente mais comum em mulheres do que em homens e essa disparidade se dá por por conta de fatores tanto anatômicos quanto fisiológicos, sobretudo mulheres jovens, em menopausa e grávidas. 

A uretra feminina, com aproximadamente 4 cm de comprimento, é muito mais curta que a masculina, que mede cerca de 20 cm. Além disso, a proximidade da uretra feminina em relação à vagina e ao ânus contribui para a maior predisposição das mulheres a desenvolverem infecções urinárias. 

Esses fatores combinados explicam por que a infecção urinária é consideravelmente mais frequente no sexo feminino.

No caso das mulheres na menopausa, as mudanças hormonais são a causa da predisposição às infecções, pois o revestimento interno urinário se torna mais frágil, com pouca defesa às agressões bacterianas que penetram o canal da uretra.

Durante a gravidez também há o crescimento uterino ao longo dos meses, que compromete o esvaziamento da bexiga, causando certo grau de “retenção urinária” que propicia o aparecimento de ITU.

Quais são as principais causas da infecção urinária em mulheres?

Tendo em vista essas informações, podemos elencar de maneira resumida as principais causas de infecção urinária recorrente em mulheres da seguinte forma:

  1. Bactérias: a Escherichia coli é a bactéria mais comum, responsável por aproximadamente 80% dos casos​, porém outras bactérias intestinais podem estar envolvidas chamadas de bactérias Gram negativas;
  2. Relações sexuais: a atividade sexual interfere na flora bacteriana da região íntima; o sexo anal seguido do vaginal sem uso de preservativo, provoca contaminação vaginal pelas fezes, aumentando muito o risco de ITUs.

    As ITUs geralmente não são transmissíveis, sendo normalmente causadas pelas bactérias da própria paciente presentes em flora vaginal alterada, exceto em casos de IST (como clamídia e gonorréia).

    Uma parcela das mulheres percebem nítida associação entre atividade sexual e ocorrência de ITUs, que pode estar relacionada a alterações anatômicas ou preferências sexuais;
  3. Alterações hormonais: mudanças hormonais podem comprometer a capacidade de defesa do organismo, aumentando a predisposição a infecções.. Isso ocorre em situações como a menopausa ou peri-menopausa, bem como em casos de estresse crônico, que eleva a produção do hormônio cortisol, resultando em uma diminuição da imunidade.

O que causa infecção urinária recorrente em mulheres?

Quando o processo de infecção ocorre mais de duas vezes em um intervalo de 6 meses — ou se acontecem três ou mais infecções ao ano — a condição caracteriza-se como infecção urinária recorrente.

Nesse caso, ela pode ser causada por fatores múltiplos e inclusive anatômicos, como uma uretra curta que facilita a entrada de bactérias na bexiga, prolapso genital ou alterações hormonais, como as que ocorrem durante a menopausa ou gravidez.

Quais os sintomas da infecção urinária recorrente em mulheres?

Os sintomas da infecção urinária podem variar dependendo da parte do trato urinário afetada mas podem ser resumidas em:

  • Bexiga: dor ao urinar, necessidade frequente de urinar, dor na parte inferior do abdômen;
  • Rins: dor nas costas ou flanco, febre, calafrios, náusea e prostração;
  • Uretra: ardência ao urinar, secreção uretral.

Sintomas da Cistite

Cistite é o nome dado à infecção quando ocorre na bexiga e frequentemente é acompanhada por dor ao urinar, urgência miccional, além de dor na parte inferior do abdome.

Também pode ocorrer alteração do odor da urina, que passa a apresentar cheiro forte, com aspecto turvo, presença de sangue e em alguns casos até urge incontinência, que são escapes involuntários de urina nos casos mais severos.

Sintomas da Pielonefrite

A pielonefrite, por sua vez, é uma infecção renal que geralmente se desenvolve após  um episódio de cistite, frequentemente apresenta febre superior a 38°C, acompanhada  de calafrios e dor lombar em um ou ambos os lados.

Trata-se de uma condição mais grave, pois há um risco aumentado de evolução para urosepse, também conhecida como infecção generalizada ou septicemia, o que pode colocar a vida da paciente em perigo.

Sintomas da uretrite

No caso da uretrite, que ocorre na uretra, os sintomas são bastante semelhantes aos da cistite, como a dor ao urinar, aumento da frequência urinária e urgência miccional, além de poder apresentar secreção uretral.

Mulher segurando comprimido com a mão direita e um como com a mão esquerda

O que não pode fazer quando está com infecção urinária?

É crucial evitar a automedicação, especialmente o uso de antibióticos sem prescrição médica, pois isso pode levar à resistência bacteriana e complicações adicionais. Produtos irritantes, como sprays íntimos e espermicidas também devem ser evitados.

Como é realizado o diagnóstico da infecção urinária recorrente em mulheres?

O diagnóstico de infecção urinária geralmente envolve uma combinação de exames clínicos e laboratoriais, onde o médico pode solicitar:

  • Exame de urina (Urina tipo I ou EAS): para detectar a presença de bactérias, glóbulos brancos e sangue;
  • Exames de Medicina Molecular (PCR): permitem a detecção de determinadas bactérias com rapidez e alta sensibilidade na urina. Estes exames são muito eficientes quando há suspeita de clamídia e gonorréia (casos de IST associada).
  • Cultura de urina com antibiograma: para identificar a bactéria causadora e determinar o antibiótico mais eficaz;
  • Exames de imagem: podem ser realizados exames como ultrassonografia ou tomografia para avaliar a condição do trato urinário, investigando presença de complicações como abscessos renais e coleções, bem como dilatação do rim (hidronefrose), presença de pedras ou malformações congênitas.
  • Cistoscopia: deve ser indicada em casos especiais, como na suspeita de cistite intersticial (autoimune).

Qual o tratamento adequado para infecção urinária feminina?

O tratamento da infecção urinária pode variar dependendo da gravidade da infecção e do organismo causador, porém, dentre os os principais tipos de medicamentos utilizados, podemos citar:

Remédios para infecção urinária

  • Tratamento com antibióticos: esses são os medicamentos mais comuns para tratar infecções urinárias, especialmente quando causadas por bactérias.

    Terapias mais curtas, como a fosfomicina em dose única ou em duas doses, quando adequadamente indicadas, podem ser tão eficazes quanto os tratamentos prolongados com antibióticos de primeira linha (nitrofurantoína e sulfas) por até 7 dias, com menos efeitos adversos.

    A diretriz da Associação Americana de Urologia (AUA) preconiza o não emprego de antibióticos a pacientes com bacteriúria assintomática, ou seja, pacientes com urocultura positiva e ausência de sintomas urinários não precisam ser tratados com antibióticos;
  • Analgésicos: para aliviar a dor associada à infecção urinária, analgésicos podem ser prescritos, o paracetamol é frequentemente utilizado para reduzir a dor e a febre.

    Em alguns casos, analgésicos urinários como o Pyridium® (cloridrato de fenazopiridina)  também são prescritos para aliviar a dor e o desconforto de maneira localizada;
  • Antiespasmódicos: esses medicamentos ajudam a aliviar as contrações da bexiga, que levam a frequência urinária excessiva e a dor associada à infecção;
  • Profilaxia com antibióticos: para infecções urinárias recorrentes, pode-se considerar a profilaxia com antibióticos específicos, como a nitrofurantoína, sulfas, cefalexina e a fosfomicina, e baseando-se também na suscetibilidade bacteriana do último episódio de ITU;
  • Terapia pós-coital: para mulheres cujas ITUs estão relacionadas à atividade sexual, a profilaxia pós-coital pode ser uma abordagem eficaz;
  • Estrogenoterapia vaginal: recomendada especialmente para mulheres na peri e pós-menopausa, a aplicação de estrogênio vaginal pode reduzir o risco de infecções recorrentes;
  • Metenamina (Sepurin® e Cystex®): outro método preventivo é o uso de metenamina, um antisséptico urinário que acidifica a urina sendo comparável à profilaxia antibiótica em eficácia;
  • Lisado bacteriano de E. coli (Uro-Vaxom®): imunoterápico oral que age como vacina, sendo indicado para tratamento preventivo para mulheres com infecções urinárias recorrentes e não complicadas. Não é indicado para mulheres grávidas.

Como tratar infecção urinária recorrente ou de repetição?

O tratamento da infecção urinária recorrente geralmente requer uma abordagem multifacetada, onde, além do uso de antibióticos citado acima, também é recomendado o uso de imunoterápicos para fortalecer a resposta imune contra as bactérias causadoras da infecção. 

A terapia hormonal, especialmente com estrogênio vaginal, pode ser eficaz para mulheres na pós-menopausa e de uma maneira geral, mudanças no estilo de vida e na dieta também desempenham um papel importante na prevenção de recorrências.

Como evitar a infecção urinária feminina?

Para prevenir infecções urinárias, as mulheres podem seguir algumas recomendações essenciais que ajudam a manter o trato urinário saudável e reduzir o risco de infecção. Aqui estão as principais estratégias:

  • Hidratação : beber bastante água dilui a urina, facilitando a eliminação de bactérias antes que elas possam causar infecção; aumentar a ingesta de líquidos em 1,5 litros por dia pode reduzir a frequência de ITUs recorrentes em até 48% em mulheres na pré-menopausa;
  • Urine regularmente: segurar a urina por períodos prolongados pode permitir que as bactérias se multipliquem no trato urinário, por isso, urinar frequentemente em intervalos menores que 4 horas. Isto ajuda a manter o sistema urinário limpo.

    O hábito de urinar logo após atividade sexual é saudável, pois elimina as bactérias que eventualmente tenham acesso à bexiga após o ato sexual;
  • Higiene pessoal adequada: mantenha uma higiene íntima adequada lavando a área genital com água e sabão neutro diariamente. Usar produtos de higiene íntima não perfumados também pode ajudar a evitar irritações;
  • Evite roupas apertadas e sintéticas: roupas íntimas de algodão são as mais recomendadas porque permitem melhor ventilação e mantém a área seca, o que reduz o risco de crescimento bacteriano;
  • Alimentação adequada: uma dieta rica em frutas, vegetais e alimentos ricos em fibras contribui para um sistema imunológico forte e um trato urinário saudável; uma dieta adequada evita a constipação que também contribui para um risco maior de ter ITUs;
  • Produtos de cranberry: o uso de produtos de cranberry pode ser eficaz na prevenção de ITUs recorrentes, especialmente em mulheres saudáveis, mas a qualidade do produto é crucial, devendo ter alta concentração do princípio ativo;
  • Cremes e óvulos vaginais: o ocorrência de vulvovaginites, que se manifestam por corrimento vaginal branco ou amarelado, seja devido a infecções bacterianas ou candidíase, deve ser prontamente tratada, pois essas condições aumentam o risco de infecções do trato urinário (ITUs);
  • Uso de probióticos: embora os resultados dos estudos sejam variados, o uso de probióticos pode ser considerado como parte de uma estratégia preventiva, ainda que mais pesquisas sejam necessárias para confirmar sua eficácia.

Quanto tempo dura a infecção urinária?

A duração da infecção urinária depende do tratamento e da gravidade da infecção, mas em geral, com tratamento adequado, os sintomas geralmente melhoram em poucos dias. 

No entanto, é importante seguir o curso de antibióticos de maneira completa, seguindo o que é prescrito pelo médico para garantir a erradicação completa da infecção.

homem de jaleco com estetoscópio conversando com uma mulher, com uma mesa ao lado e uma caderneta

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Conclusão

Compreender o que é a infecção urinária, suas causas, sintomas e formas de tratamento, além de buscar um diagnóstico médico, são etapas fundamentais para evitar complicações e garantir uma recuperação completa em casos de infecção.

Se você suspeita de uma infecção urinária ou está enfrentando sintomas, não hesite em procurar ajuda profissional. Na Clínica Iizuka, você encontra um atendimento especializado e dedicado comigo, para tratar e prevenir essas e outras infecções.

Dr Flávio Iizuka

Dr. Flávio Haruyo Iizuka (CRM 75674 – RQE 32918), graduado em Medicina pela USP Pinheiros – Turma 75 (1992), com Residência Médica em Cirurgia Geral e Urologia no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (1994 a 1998), Fellowship em Urologia na Mayo Clinic de Jacksonville nos Estados Unidos (1997) e doutorado no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

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